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Influenciadora ‘Diva do CRAS’ é cortada do Bolsa Família depois de ostentar carro e iPhone

Mulher segura iPhone 17 e cartão do Bolsa Família em frente a carro de luxo, ilustrando o caso da “Diva do CRAS” que perdeu o benefício.

Os programas de transferência de renda – como o Bolsa Família – configuram-se como políticas públicas fundamentais para a mitigação da pobreza e da desigualdade no Brasil. Esses instrumentos têm por objetivo assegurar uma rede mínima de proteção social, voltada a famílias em situação de vulnerabilidade social.

No entanto, casos recentes têm colocado em evidência a fragilidade da interface entre beneficiários, percepção pública e redes sociais. Um exemplo desse fenômeno é o episódio protagonizado por Merianne Silva, mais popularmente conhecida como “Diva do CRAS”, que alegou ter sido excluída do programa após gastar com bens de alto valor.

O caso em foco
Segundo reportagem publicada pelo jornal Correio Braziliense, Merianne postou vídeo no qual afirma que “foi tirada do benefício” por comprar um Jeep 0 km (avaliado entre R$ 120 mil e R$ 150 mil) e um iPhone 17 — o qual no lançamento pode custar até cerca de R$ 11 mil. Correio Braziliense

Ela declara, em tom bem-humorado e satírico:

“Me denunciaram porque eu comprei um carro e um iPhone 17. Tô triste, com o coração na mão. Como é que eu vou pagar o Jeep sem o meu Bolsa Família?”
Ainda conforme o apurado, ela teria participado do programa entre 2013 e 2021, com última parcela registrada em outubro de 2021 no valor de R$ 212. Atualmente ela não consta mais no Cadastro Único.
Outros portais corroboram o episódio, apontando que ela fez o vídeo mais como uma sátira ou brincadeira, mas o contexto revelou o dilema simbólico e concreto da assistência social.

Análise crítica
O episódio apresenta múltiplas camadas de análise:

  1. Visibilidade e redes sociais
    A atuação de Merianne como “influenciadora” e criadora de conteúdo — sobretudo voltada à estética de vulnerabilidade ou jornadas pessoais — torna o caso mais complexo. Quando bens de elevado valor são exibidos por quem já participou de programa social, mesmo que fora do benefício, isso gera forte repercussão pública. A ironia utilizada por ela (“Diva do CRAS” brincando sobre perder o Bolsa Família) serve simultaneamente como entretenimento e como questionamento das normativas sociais.
  2. Critérios de permanência e fiscalização
    A lógica dos programas de transferência depende de critérios rígidos de renda, de composição familiar e de permanência no programa. Situações em que beneficiários adquirem bens de alto valor podem provocar investigações ou desligamentos. No caso em questão, embora não haja confirmação de que tenha havido fraude ou irregularidade investigada oficialmente, a repercussão indica que houve alerta para a compatibilidade entre benefício recebido e patrimônio declarado.
  3. Estigmatização dos beneficiários
    A narrativa também ilustra o risco de estigmatização. Por um lado, quem recebe benefício pode ser visto como inapropriado se “ostentar” bens de luxo; por outro, a visibilidade exacerbada pode repercutir em acusações de mau uso ou de fraude — muitas vezes sem investigação aprofundada. O episódio reforça o debate sobre como a sociedade percebe os beneficiários de programas sociais, e até que ponto a visibilidade pública interfere com a lógica da ajuda social.
  4. Política pública e impacto social
    Casos como esse têm repercussões simbólicas para a política pública de assistência: eles alimentam narrativas de que benefícios são mal usados ou que os critérios são frouxos, o que pode abalar a confiança pública no programa. Por consequência, pode haver pressão política para endurecimento dos critérios ou restrição de acesso — o que, por sua vez, pode prejudicar famílias realmente vulneráveis.

Implicações para o cadastro e o controle social
O episódio reforça a importância de mecanismos de controle, transparência e prestação de contas nos programas de transferência. Algumas implicações práticas:

  • A necessidade de atualização periódica dos dados do Cadastro Único, evitando que famílias que passaram de faixa de renda continuem no programa indevidamente.
  • A importância da comunicação pública clara sobre critérios de elegibilidade, suspensão e desligamento, para reduzir percepções de favorecimento ou privilégio indevido.
  • A consideração da visibilidade em redes sociais como fator de alerta — mas não como única base de investigação ou exclusão automática.
  • O cuidado para que políticas de controle não se tornem excessivamente punitivas a ponto de excluir famílias apenas pela aparência ou exposição, sem que seja constatada irregularidade efetiva.

O caso da “Diva do CRAS” — Merianne Silva — ilustra como a interseção entre redes sociais, programas de assistência e visibilidade pública pode gerar episódios com repercussão muito além da esfera individual. Embora o tom utilizado por ela seja de humor e ironia, a repercussão mostra desafios reais: a manutenção da credibilidade dos programas de transferência, o equilíbrio entre fiscalização e dignidade dos beneficiários, e o impacto simbólico de cada caso sobre a confiança pública nas políticas sociais.
Para os gestores públicos, o alerta é duplo: reforçar os mecanismos de controle e, simultaneamente, garantir que a ajuda social não seja fragilizada por casos que, ainda que pontuais, podem gerar narrativas de injustiça ou favorecimento. Para a sociedade, o caso chama atenção para a necessidade de conversar sobre vulnerabilidade, fama e responsabilidades — em especial em tempos de redes sociais, onde os limites entre brincadeira, crítica social e espetáculo se confundem.

Referências

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