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“Diva do CRAS”: o episódio que reacende o debate sobre humor, benefício social e visibilidade nas redes

Caricatura de uma mulher sorridente segurando um celular ao lado de uma geladeira, simbolizando a “Diva do CRAS”.

A viralização de um vídeo no qual uma mulher afirma ter comprado um iPhone com o cartão do Bolsa Família reacendeu nas redes sociais uma controvérsia multifacetada: a interseção entre humor, políticas sociais e julgamentos públicos. Natural de Nossa Senhora do Socorro (SE), Merianne Silva, conhecida como “Diva do CRAS”, tornou-se personagem central desta discussão.


O caso: afirmação e repercussão

No vídeo que circulou amplamente, Merianne aparece em uma loja de celulares dizendo que usaria seu benefício do programa social para adquirir um iPhone 17 Pro Max, afirmando que “meu cartão da Bolsa Família foi liberado para pegar meu iPhone”. Essa fala ganhou críticas imediatas, com internautas apontando que o uso de um programa destinado à segurança alimentar para adquirir bens de consumo de alto valor poderia alimentar discursos estigmatizantes.

Apesar disso, segundo o próprio veículo que divulgou o vídeo, não há confirmação de que a compra tenha ocorrido de fato: trata-se de um conteúdo humorístico criado para repercussão.


Quem é Merianne Silva, a “Diva do CRAS”?

Merianne é influenciadora digital com foco em narrativas de baixa renda, humor e situações cotidianas vividas por quem depende de políticas sociais. Com mais de 380 mil seguidores no Instagram, ela já se tornou figura frequente em páginas de humor e de fofoca.

Entre seus conteúdos, há vídeos em que satiriza atendimentos em unidades de assistência social (como o próprio CRAS, Centro de Referência da Assistência Social), além de outras postagens ligadas à sua rotina. Sua visibilidade já era crescente antes do episódio do iPhone, mas esse vídeo em particular lhe conferiu ainda mais notoriedade — e controvérsia.


Reações e críticas: limites do humor e reforço de estigmas

Embora alguns seguidores reconheçam a proposta satírica, uma parcela do público considera o vídeo como um desserviço social. Comentários apontam que o Bolsa Família — ou qualquer auxílio social — já sofre estigmatização, e que carregar conteúdos como esse pode reforçar concepções equivocadas de que beneficiário de programas sociais vive em exagero ou ostentação.

Uma internauta declarou: “Eu entendo que seja uma brincadeira tirando sarro do cartão do Bolsa Família, mas considero isso um desserviço enorme.” Outro comentário alerta: “Humor tem limite.”

O debate toca em temas sensíveis: até que ponto o humor sobre políticas sociais pode ser legítimo e quando ele passa a reforçar estereótipos? Em contextos de desigualdade e profunda divisão social, esse tipo de discurso pode gerar mais sérios impactos, especialmente sobre a imagem pública de beneficiários de programas sociais.


Reflexões sobre o episódio

O compartilhamento viral desse vídeo evidencia como pequenas narrativas nas redes sociais podem gerar efeitos amplos — positivos ou negativos — para quem as cria ou para contextos mais amplos de percepção social. No caso específico:

  1. Liberdade artística e sátira — artistas, humoristas e influenciadores muitas vezes utilizam o exagero ou ironia para provocar reflexão.
  2. Responsabilidade social — ao lidar com símbolos de benefício público, é necessário ponderar que repercussões negativas recaem com mais frequência sobre grupos vulneráveis.
  3. Visibilidade e estigmatização — em sociedades marcadas por desigualdades, satirizar uma política social pode reforçar discursos preconceituosos.
  4. Receptividade diversificada — há quem veja humor, e há quem enxergue ofensa ou banalização de uma condição que afeta pessoas reais.

Esse caso em torno da “Diva do CRAS” sinaliza, ainda, a urgência de lidar com narrativas nas redes sociais de forma mais consciente, sobretudo quando envolvem temas sensíveis, como assistência social, benefícios públicos e populações vulneráveis.


O episódio evidencia que humor e redes sociais andam de mãos dadas, mas nem sempre de forma inocente. O conteúdo que viraliza é aquele que provoca — para rir, para criticar ou para incomodar. No entanto, é papel tanto do criador quanto da audiência manter vigilância sobre os efeitos simbólicos dessas criações.

Para o blog Agendamento CRAS, esse caso é especialmente relevante, pois reforça a necessidade de reflexão sobre as narrativas que envolvem o CRAS, os beneficiários e o imaginário público. Ao dar voz e visibilidade, é fundamental que se observem também os limites éticos e sociais que separam a provocação do dano simbólico.


Referências

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